domingo, 14 de agosto de 2011

Wilhelm Tell, de Friedrich von Schiller

"...Zu zielen auf des eignen Kindes Haupt, Solches ward keinem Vater noch geboten!"*

Nesta semana terminei de ler o livro "Wilhelm Tell" (Guilherme Tell, em port.), do escritor alemão Schiller. Este foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos, e, portanto, resolvi postar aqui algo sobre ele. Assim, vou primeiramente escrever algo sobre o autor, para, em seguida, escrever sobre o livro.

Johann Christoph FRIEDRICH von SCHILLER, nascido em 10/11/1759 na cidade alemã de Marbach am Neckar, no Estado de Württemberg (sendo que Neckar é o nome do rio em que a cidade está localizada), morreu em 09/05/1805, na cidade alemã de Weimar, no Estado de Sachsen-Weimar (Saxônia-Weimar).

Talvez, valha a pena frisar que esses Estados alemães, hoje, tem outra constituição. O Estado de Württemberg foi fundido com o Estado de Baden, e formam hoje o Estado com o creativo nome de Baden-Württemberg. O Estado de Sachsen-Weimar é hoje o Estado Livre da Turíngia (Freistaat Thürigen).

Pois bem. Schiller foi um dos maiores poetas e dramaturgos da língua alemã. Fora isso, ele também foi um importante historiador e filósofo. Junto com Wieland, Goethe e Herder, formava Schiller aquilo que se chama de "Classicismo de Weimar" (Weimarer Klassik).


Schiller era boêmio, adorava tabaco e jogar cartas. A partir de 1773, ele frenqüentou a academia militar por ordem do Ducato onde vivia. Lá, ele começou estudando direito e depois mudou o estudo para medicina. Enquanto ele estudava, ele também se interessava por obras literárias. Assim, em 1776 foi publicada sua primeira poesia "Der Abend" (A noite).

Em 1782, Schiller fugiu de Stuttgart para Mannheim. Entre os anos de 1783 e 1789, Schiller sofria de sérios problemas financeiros. Esta situação só veio a se normalizar em 1789, quando ele virou professor na Universidade de Jena.

Schiller morreu em maio de 1805 de tuberculose, causada por pneumonia.
Entre obras famosas de Schiller, fora Wilhelm Tell, pode-se citar "Die Räuber" (Os ladrões) e "An die Freude" ("À Alegria", em port. Esta é a letra do movimento "Ode à Alegria", da 9. Sinfonia de Beethoven).

Schiller desenvolveu durante sua vida uma amizade com Goethe, sendo que ele chegou a morar por duas semanas na casa de Goethe, onde ele pode observar a rotina deste.

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Agora, à Obra propriamente dita:

Wilhelm Tell, de Friedrich von Schiller


É importante dizer que "Guilherme Tell" é na verdade uma lenda suíça sobre um valente homem, famoso por sua bravura, caráter e pela sua habilidade no manuseio da balestra (ou besta. Arma cuja idéia se assemelha à do arco-e-flecha. Armbrust em alemão), que ajudou à combater a tirania dos Habsburgos por volta dos séculos XII e XIII, em regiões que hoje constituem a Suíça.

Schiller pega esta lenda como base e escreve uma peça de teatro. "Guilherme Tell" foi o último drama escrito e findo por Schiller, antes de sua morte. Esse drama estreiou no dia 17 de março de 1804 no Waimarer Hoftheater, evidentemente, em Weimar.

A obra é dividida em 5 Atos, sendo que:

1. Ato - 4 Cenas;
2. Ato - 2 Cenas;
3. Ato - 3 Cenas;
4. Ato - 3 Cenas;
5. Ato - 2 Cenas.

A estória do livro se mistura com história da própria Suíça. Lembrando aqui que Schiller é original do antigo Estado alemão de Württermberg. Estado este que faz fronteira com a Suíça (em grande parte, pelo Lago de Constança - Bodensee). Assim, assume-se que Schiller tinha laços culturais muito fortes com a Suíça. Principalmente com a Suíça alemã. Aqui valhe ressaltar também uma das maiores (senão a maior) dificuldade na leitura desse livro - a língua. O Logotipo do Estado de Baden-Württemberg na tentativa de eleger a cidade de Karlsruhe como "Europäische Kulturhauptstadt" (Capital Cultural Européia), há alguns anos foi justamente "Baden-Württemberg: Wir können alles, ausser Hochdeutsch", ou em português: "Baden-Württemberg: Nós podemos tudo, fora alemão culto". O tipo de alemão usado na escrita desta obra é bem regional...realmente quase em dialeto. Entretanto, a leitura não se torna impossível por causa deste obstáculo.

De forma bronca, a estória se resume à um bravo homem (Guilherme Tell) que vive numa região da Suíça que vem sendo tiranizada por um homem responsável pela administração pública, em nome do Rei. Este homem é o Reichsvogt Hermmann  Gessler. O título "Reichsvogt" corresponde ao cargo na administração pública. Gessler era responsável pelas regiões de "Schwyz" e "Uri".

Então, num determinado dia o Reichsvogt resolve pendurar um chapéu num poste no meio da cidade, representando o poder dos Habsburgos. Todos os súditos deveriam prestar reverência sempre ao passar em frente à este chapéu. Guilherme Tell se reusou à fazê-lo. Como, nesta hora, ele estava acompanhado de seu filho Walther Tell, e Guilherme Tell tinha a fama de ser um exímio atirador de flechas, o Landvogt (Reichsvogt) decidiu conceder à Guilherme Tell a chance de salvar a sua vida, caso ele acertasse uma maçã, posta no cabeça de seu filho, à distância de 100 passos, com uma flechada só. O rebuliço na cidade é geral. Tell se recusa à fazê-lo. Eis então que o Landvogt diz, que se Guilherme Tell não o fizer, morrerá ele e seu filho.

Acoado, Guilherme Tell separa uma flecha das outras, e com a segunda flecha, ele acerta a maçã. A comoção na praça é sonora. Todos festejam a liberdade dos dois do poder do tirano. O Landvogt chama Tell às conversas, e o primeiro garante a vida de Tell. Entretanto, ele o faz uma perguta: Por quê Tell separou a primeira flecha. Eis que Tell o responde, dizendo que caso ele errasse o tiro, e matasse seu próprio filho, aquela flecha seria com certeza direcionada ao coração do Landvogt.

Sabendo disso, o Landvogt decreta a prisão imediata de Guilherme Tell. A tropa do Landvogt e Tell (já como prisoneiro) embarcaram para a cidade de Küβnacht. No meio do caminho, fortes tempestades perturbaram a travessia, e, abordo, somente Tell tinha conhecimento suficiente da área para guiar o navio até seu destino em segurança. Eis então que libertaram Tell das algemas, e este tomou o comando do navio. Tell jogou o navio contra a margem, e pulou para fora, assim, escapando.  



Já em terra firme, Guilherme Tell se posiciona de forma estratégica, à espreita, olhando de cima o caminho para a cidade de Küβnacht, por onde a comitiva do Landvogt inevitavelmente teria que passar. O caminho desta comitiva é então interrompido por uma senhora com seus dois filhos, que pedem junto ao Landvogt clemência pelo seu marido, que havia sido injustamente preso. Ao ter o pedido de clemência recusado, a senhora se prostra junto com seus dois filhos em frente aos cavalos do Landvogt. Quando este se prepara para passar por cima das três pessoas com seus cavalos, uma flecha lhe acerta o coração. A morte é rápida. Do alto das montanhas, via-se a silhueta de Guilherme Tell.

A estória secundária desta obra se encarrega de preênche-la com detalhes históricos. Durante todo este processo, houve a constituição da Suíça propriamente dita, com um juramento feito por três representantes das regiões de "Uri", "Schwytz" e "Unterwalden". Este tratado entrou para história conhecido como "alte Eidgenossenschaft" (Antiga Confederação Helvética, em português. Ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Antiga_Confedera%C3%A7%C3%A3o_Helv%C3%A9tica).



Então, na estória, os confederados conseguem derrubar um por um dos tiranos das diversas regiões, e assim, formam o começo do país que hoje se chama somente Suíça.

De forma bem genérica, a estória se resume à isto. É uma leitura muito bacana e bem poética. Há trechos que    realmente são poesia pura, como por exemplo:

Rasch tritt der Tod den Menschen an,
Es ist ihm keine Frist gegeben,
Es stürzt ihn mitten in der Bahn,
Es reiβt ihn fort vom vollen Leben,
Bereitet oder nicht, zu gehen,
Er muβ vor seinen Richter stehen!

Estes versos fazem parte da canção entoada pelos "Barmherzige Brüder", por causa da morte do Landvogt. Os "Barmherzige Brüder" (Irmãos Misericordiosos, em português), fazem parte da Igreja Católica, e se ocupam, principalmente, com a ajuda aos doentes e idosos. Eles seguem principalmente a doutrina de Santo Agostinho. A tradução deste verso para o português é:

Rápido entra a morte no homem,
Não lhe é dado nenhuma data,
O derruba no meio da estrada,
Lhe arrebata da completa vida,
Pronto ou não para ir,
Ele tem que encarar seus juízes!        

Espero que tenham gostado do apanhado geral, e que tenham sentido vontade de ler o livro!

p.s. A passagem * no início desta postagem significa em português:
Alvejar a cabeça do próprio filho, tal coisa nunca fora imposta à nenhum pai!

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